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Migração nordestina

Como foram os últimos 40 anos desse fluxo migratório?

Quando aborda-se os temas Nordeste e nordestinos, preconceitos e senso comum costumam servir como pano de fundo em diversas partes do processo. Seja em Piracicaba, na RMC (Região Metropolitana de Campinas) ou na região Sudeste do país, fato é que o fluxo migratório vindo da região Nordeste passou por seus altos e baixos. Para este texto, foram explorados os últimos 40 anos deste processo, buscando-se traçar um panorama sobre sua origem e atual situação.

 

Começando do começo: o que é migração?

 

Oficialmente falando, a ação é definida por Wagner de Cerqueira - especialista em Geografia - como "trocar de país, região, estado, município ou até domicílio". Ou seja, se mudar para outro(s) lugar(es). De forma geral, existem dois tipos de migração: interna, que se refere à movimentação dentro do país, e internacional, entre países.

 

A partir desta definição, surgem diversas ramificações, como refugiado, exilado, requerente de asilo e por aí vai. O enfoque deste texto, como o título sugere, será uma parcela desta migração interna: os nordestinos.

 

E o Brasil com isso?

 

Os censos demográficos realizados pelo IBGE em 1980 e 2000 apontaram que certas regiões, como Sul e Sudeste, tornaram-se cenários promissores para aqueles em busca de melhores condições de vida. Esse cenário, porém, já dava as caras bem antes. “A década de 70 se inicia com uma forte concentração da indústria na porção Centro-sul do país, especialmente nas grandes cidades do Sudeste e do Sul, estabelecidas como alvo preferencial dos fluxos migratórios”, diz Fernando Gomes Braga, mestre em Geografia e professor da Universidade Salgado de Oliveira (Belo Horizonte). Na época, o modelo urbano-industrial das metrópoles transbordava oportunidades de emprego.

 

Neste contexto, como destaca Wagner de Cerqueira, “os habitantes do Nordeste protagonizaram grandes fluxos migratórios com destino às outras regiões do país, sobretudo para o Sudeste”.  Por outro lado, a imagem destes nordestinos no imaginário popular, seja em metrópoles (como São Paulo) ou cidades grandes do interior (como Piracicaba), é sempre acompanhada de condições ingratas, seja de educação, moradia ou trabalho. Mesmo sendo parte do imaginário popular, não é ao todo equivocada.

 

Em Piracicaba, um exemplo vívido desta realidade são os chamados “boias-frias”, trabalhadores rurais que atuam sem vínculos empregatícios (na maioria das vezes em condições precárias). Sobre esta parcela dos migrantes, iniciativas como o documentário “Migrantes”, fruto de uma parceria entre a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Piauí (UFPI) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA), buscam retratar de maneira fiel as duras condições que eles enfrentam no dia-a-dia.

 

Mudou alguma coisa de lá pra cá?

 

De acordo com o censo realizado pelo IBGE em 2010, é possível perceber que está mudando. Em julho de 2011, o portal de notícias G1 levantou uma parte curiosa do estudo divulgado pelo instituto baseado em dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios): o fluxo migratório nordestino para o Centro-sul não só havia diminuído como a região registrava a maior taxa de retorno de migrantes. “Além de apresentar menor migração, diminuindo o número de pessoas que saem, o Nordeste começa a atrair população, com uma rede social melhor”, disse Antônio Ribeiro de Oliveira, um dos pesquisadores do IBGE, ao portal de notícias. E não para por aí.  “O Sudeste, que já não recebia mais tantas pessoas, passa a ser também emissor, não só de migrantes, como também de quem é originário e está deixando essa região”, completa o pesquisador.

 

Cerca de 3 anos depois, em novembro de 2014, o jornal Correio Popular trouxe a tona a diminuição do ritmo de entrada de migrantes (entre eles, nordestinos) em Campinas, principal cidade da RMC. Como colocou o jornal na época, “mais pessoas saíram [75.5 mil] do que entraram [63 mil], deixando negativo o saldo migratório da cidade — déficit de 12,4 mil”. Entre 1980 e 2010, a taxa de migração anual na RMC caiu pela metade. Para Wagner de Cerqueira, “esse processo é consequência do aumento do desemprego nas grandes cidades”. Pode não parecer, mas a fonte está secando. Qual será a próxima bola da vez?

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